GA7: Ciência e pensamento do sentido
-*Wissenschaft und Besinnung -Ciência e pensamento do sentido (português, Carneiro Leão, em Ensaios e Conferências) -Science et méditation (francês) -Science and Reflection (inglês) -*Wissenschaft -ciência -ciencia -science -*Besinnung -pensamento do sentido (Carneiro Leão) -méditation (francês) -reflection (inglês) -réflexion (francês) -*Cultura - espaço em que se desenrola a atividade espiritual e criadora do homem, à qual pertence a ciência, sua prática e organização, enquanto um dos bens que o homem preza e se dedica. -*A essência da ciência não se encontra em seu sentido de objeto cultural, assim como a essência da arte; -Lembrar do conceito de Heidegger de essência do homem como testemunha do ser. -A arte revela a verdade do real de um modo inteiramente consistente com nossa natureza essencial. -Em sua essência a arte é uma sagração e um refúgio, em que cada vez de maneira nova, o real presenteia o homem com o esplendor, até então encoberto de seu brilho a fim de que nesta claridade possa ver com mais pureza e escutar com mais transparência o apelo da essência. -*A ciência é um modo decisivo de se apresentar tudo que é e está sendo. -Assim como a técnica não é mera fabricação do homem -*Na ciência moderna, H. vê uma destinação além da simples busca do saber. - Por isto determina em seus traços e em proporção crescente, a realidade na qual o homem de hoje se move e se sustenta. -*O poder da ciência se desenvolveu e se mundializa. -Será a ciência um conjunto de poderes humanos capazes de se dominar pela vontade e decisão? -Será um destino superior? -Será que rege algo mais que um querer conhecer? De fato assim é e para desvendá-lo é necessário ir além das representações habituais. -*Este algo mais consiste em uma conjuntura que atravessa as ciências, de modo encoberto. Sua formulação mais simples e direta seria: a ciência é a teoria do real. -A formulação é mais uma provocação ao questionamento que uma definição. -A fórmula se aplica a ciência moderna, mas não à ciência grega ou medieval. -Necessário diálogo com as origens do pensamento ocidental, na Grécia, para compreender a ciência moderna. -*“A ciência é a teoria do real”: -o que significa o real? -*O real preenche e cumpre o setor da operação, daquilo que opera. -O real (das Wirkliche) preenche (erfüllt - preenche e realiza) o domínio do “obrante”, daquilo que obra (francês). -O real (das Wirkliche) traz à plenitude o reino da obra (das Wirkenden), daquilo que obra (wirkt) - inglês. -*Pensado originalmente pelos gregos como energeia, “vigência-na-obra”. -Algo que vige depois de ter chegado ao des-encobrimento -O termo adquire um novo sentido, de ser causado -*Na mesma luz como Deus vem a ser pensado como “causa primeira”. -*Em tempos modernos, o modo de causação se move em direção a visão de “consequências”, que se contrapõem a causa. -O que se desenrola é o conceito moderno de objeto e objetividade. -*O termo real, na frase “a ciência é a teoria do real”, não é simplesmente passivo mas nossa concepção e expectativas do real organizam a ciência em um modo específico -o que a ciência vai estudar como o real é o mundo apreendido sob a limitada noção de presença de objetos apenas. -o que significa teoria? -*Teoria no sentido grego é “bios theoretikos”, o modo de vida do observador, “a observação que supervisiona a verdade”. -*Há um sentido moderno distinto, proclamado na frase “a ciência moderna como teoria do real”. -Uma transformação do pensar devida a translação do termo para a língua romana (theorein—>contemplari). -Ao afirmar que a ciência é objetiva, “desinteressada”, “neutra”, escamoteia-se um “interesse” em ver a realidade de acordo com uma fórmula, onde os objetos se pré-definem, se agrupam e se categorizam. -*A ciência enquanto “teoria do real” é necessariamente espacializada, departamentalizada, “disciplinada”… -*A exemplo da técnica moderna, a ciência moderna valoriza uma relação sujeito-objeto. -O homem estabelece o real de modo objetificante, moldado para ser categorizado e medido. -Nos movemos do real como “o que se presentifica como “auto-exibição” para algo que é enquadrado segundo uma objetividade. -A relação sujeito-objeto é ordenadora, sendo ambos, sujeito e objeto, sugados como “dis-ponibilidades” (Bestand). -Está assim explicado porque a técnica moderna é baseada na aplicação da ciência moderna; o mesmo destino vige essencialmente em ambas. -*Pode a ciência abarcar a natureza, e assim compreendê-la? -Não, a ciência só pode alcançar uma compreensão de um modo pelo qual a natureza se apresenta, ou melhor, se presentifica. -A natureza ela mesma está sempre exibindo a si mesma de outros modos inesperados. -A natureza, o homem, a história, a linguagem estão todos além do enquadramento da ciência; seus múltiplos modos de presentificação não se conformam a abordagem científica. -Isto significa que a ciência não pode cientificamente chegar a sua própria essência; assim peca em se auto-justificar. -Em outras palavras, e de modo atá arriscado, a ciência, vista como o melhor da racionalidade pelos modernos, não pode sustentar ou se tornar a base de qualquer reflexão séria sobre o ser humano ou sobre o significado da história. -Ao nos lançarmos na empreitada científica corremos o risco de fazer sucumbir qualquer modo genuíno de reflexão sobre nós mesmos e nossas vidas, às exigências do método científico. -**Forçados a uma objetividade artificial nos vemos submetidos a contínuas surpresas quando a realidade não se apresenta sob a disciplina científica.
